Qual deles é o verdadeiro? O autêntico? O real? O primeiro-ministro que enfrenta as manifestações, que energeticamente grita aos portugueses só há um caminho, ou o primeiro-ministro delico-doce que agora até adia projectos que, segundo ele, há poucas semanas eram inadiáveis?
A noite das eleições europeias deu à luz um "novo" e piedoso José Sócrates. Um José Sócrates light, um histórico arrogante que pede aos portugueses que lhe concedam o estatuto de arrependido. Nasceu um falso tímido que percebeu de supetão que a lata, o descaramento e a teimosia com que encara os problemas do país conduziram-no a um forte castigo público.
Sócrates e o seu Governo socialista, durante quatro anos e alguns meses, não resolveram quase nada. Optaram claramente pelo lado errado de fazer política. Para Sócrates, governar foi sinónimo de anunciar. Para o Governo Socialista, governar foi esconder verdades, encontrar desculpas, pretextos e culpados para os seus próprios falhanços. Quatro anos e alguns meses em que na saúde, na educação, na justiça, na segurança, no emprego, na economia nada melhorou, bem antes pelo contrário. Todos os índices afirmam, infelizmente, um Portugal mais pobre, menos solidário e com menos esperança. A verdade é que Sócrates falhou, as suas políticas falharam.
O Governo socialista esgotou-se. Está à vista de todos que o primeiro-ministro se preocupa mais em disfarçar os erros do que em governar o país.
E a este primeiro-ministro, especialista em disfarçar que vai a eleições depois do Verão; com novas promessas de amanhãs melhores, de empregos ao virar da esquina, de obras públicas mal explicadas, próprias de novos-ricos sem a noção do real e do ridículo. A este José Sócrates recauchutado de governante piegas e de coração partido, uma espécie de contrafacção de António Guterres que se prepara para vir a palcos espectaculares de comícios produzidos para pedir votos aos portugueses. Sócrates ganhava com toda a certeza um concurso de mestre do disfarce, pode até ganhar um lugar de actor numa qualquer novela, mas o que é certo é que Sócrates já perdeu a confiança dos portugueses e a capacidade de governar. O que é curioso é Sócrates não ter percebido que a forma instantânea e de lágrimas de crocodilo com que se apresentou aos portugueses, trocando de estilo e de comportamento, é a prova dos nove para quem ainda tinha dúvidas, estamos perante um primeiro-ministro sem convicções, que não é autêntico e que adapta a imagem às suas necessidades eleitorais. Mas Sócrates não mudou para melhor, não mudou sequer, Sócrates continua a disfarçar até que os portugueses lhe tirem a máscara.
Luís Campos Ferreira, JN